Eu já tinha desistido da ideia de esperançar naquela manhã. O céu, mesmo claro, parecia debochar da minha fé tímida, e o café que comprei era tão fraco quanto minha vontade de sorrir.

 

Foi então que ele surgiu. Esbarrando em mim com toda a habilidade de um rinoceronte de patins.

 

Entre o susto e a bagunça, tive uma revelação: talvez fosse hora de parar de planejar tanto e aceitar a bagunça.

 

Conversamos. Descobri que ele também carregava tormentas no peito e que já tinha enfrentado mais recomeços do que um herói de novela mexicana.

 

A diferença era que ele não se levava tão a sério. Caminhava pela vida deixando-se camalear sem vergonha nenhuma.

 

Eu ri. Muito. E, no meio do riso, ele me ofereceu um pedaço de pudim. O pudim era, honestamente, um dos alimentos mais intragáveis que já experimentei na vida, porque parecia uma mistura entre cimento e saudade.

 

Mas aceitei. Pela generosidade do gesto.

 

Sentados na calçada, dividindo o pudim questionável, entendi: encontros icônicos não vêm em embalagens perfeitas. Eles vêm suados, descabelados, cheirando a café ruim e com doces torturados nas mãos.

 

Ele, com seu sorriso icônico, me perguntou se eu queria caminhar um pouco.

 

Eu disse que sim. Mesmo sabendo que, como tudo na minha vida, provavelmente ia cambalear no meio do caminho.

 

E quer saber? Que bom.

 

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Fragmentos Literários

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