Era pra ser só mais uma terça-feira comum. Mas acordei com a consciência pesada. Foi culpa de um pastel de feira, claramente duvidoso, que comi às 23h da noite anterior. No estômago, um leve presságio de algo putrefato e na alma, a certeza de que eu precisava mudar de vida, ou ao menos, de pastelaria.

 

Decidi escrever uma carta pra mim mesma, jurando solenemente que, dali em diante, nenhuma decisão alimentícia seria tomada após a meia-noite. Sentei na penumbra da sala, tentando parecer madura, enquanto tomava um pingado quente que parecia ter vindo diretamente da Groelândia, de tão frio que estava.

 

No meio da minha reflexão sobre a vida, o carteiro bateu à porta com uma carta inesperada. Era da minha tia Joana, avisando que largou tudo para virar terapeuta de morsas. Sim, a mesma Joana que passou 30 anos sendo otorrinolaringologista, agora decidiu que seu propósito era abrir um spa holístico para morsas.

 

Ela dizia ter encontrado uma conexão com o chamado ancestral das geleiras, ou talvez, fosse só excesso de incenso e tempo livre. Como prova de sua mudança radical, anexou um sachê de ervas e uma latinha de Schweppes, dizendo que era o novo ritual GGG dela: gás, gelo e gratidão.

 

Confesso que por um momento pensei em seguir os passos dela. Mas aí, o sachê explodiu na minha mão e o café caiu no chão. Achei mais prudente só tomar um calmante leve e fechar a carta aceitando que talvez, só talvez, a coragem não venha, mas boas histórias, sim.

 

Categorias:

Fragmentos Literários

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