Toda história precisa nascer.
E antes de qualquer nascimento, existe um instante de silêncio, hesitação, medo, nervosismo. O branco da página. A interrogação dentro do peito…
Começar a escrever é um dos momentos mais delicados do processo criativo, não só pela técnica, mas pela carga emocional que carregamos quando nos aproximamos da criação. Queremos que o começo seja forte, bonito, envolvente, interessante. E justamente por isso, tantas vezes travamos.
Mas a verdade é que nenhum texto precisa começar perfeito. Ele só precisa começar.
Por isso, neste texto, quero te entregar cinco formas reais e eficazes de iniciar um texto, seja ele um conto, crônica, narrativa pessoal ou qualquer outro tipo. Que cada dica abra espaço para sua escrita respirar e acontecer.

1. Comece pelo meio do caos (in media res)
Ao invés de perder tempo tentando “explicar tudo” no início, experimente começar direto em uma cena que já está acontecendo. Isso cria urgência e engajamento imediato, e ainda tira o peso de ter que situar o leitor logo de cara.
Essa técnica, chamada in media res, é muito usada na literatura e no cinema. Ela funciona porque o ser humano é curioso, ao ser jogado em meio a uma situação estranha, intensa ou sem explicação, o leitor se sente forçado a continuar.
Exemplo:
→ A faca ainda estava na mão dela quando a porta abriu.
Perceba: não sabemos quem é ela, o que aconteceu antes, nem o que vai acontecer depois. Mas queremos saber. E isso já é o suficiente para o texto respirar.
2. Escreva como se fosse uma carta
Quando travamos, muitas vezes é porque estamos tentando escrever para “todos”, e acabamos não escrevendo para ninguém. A escrita em formato de carta resolve isso. Ela cria intimidade imediata e nos lembra que a escrita é, antes de tudo, uma conversa com alguém.
Você pode escrever para um personagem, para uma parte sua, para o passado ou para o futuro, para alguém que não existe ou para alguém que já partiu. O importante é se permitir a conexão real, mesmo dentro da ficção.
Exemplo:
→ Querida memória,
Não sei por que você voltou hoje, justo agora que eu estava tentando esquecer.
Escrever como se falasse com alguém específico tira o peso da “literatura perfeita” e devolve o que importa: a presença.
3. Invoque os sentidos e não os pensamentos
Começar um texto pelos sentidos é uma forma direta de colocar o leitor dentro da cena, e de te colocar também. Esqueça explicações racionais no primeiro momento. Foque no cheiro, na temperatura do ar, na textura da pele, no som distante. Os sentidos são portais para a emoção.
Essa técnica ajuda a criar ambientação sem precisar ser expositivo. E mais: te conecta com o corpo da escrita, o que é especialmente importante quando a mente está bloqueada.
Exemplo:
→ O cheiro de chuva misturado com café velho ainda grudava no ar da sala.
Essa imagem já diz tudo: o lugar, a memória, talvez até a emoção. Sem precisar explicar.
4. Use perguntas como motor
Perguntar é uma forma poderosa de começar, porque parte do desconhecido, e é nesse terreno que a boa escrita nasce. Uma pergunta bem colocada gera tensão, curiosidade. E ainda te liberta de ter todas as respostas.
Você pode usar uma pergunta filosófica, emocional, absurda ou até mesmo cotidiana. O importante é que ela seja verdadeira para você naquele momento.
Exemplo:
→ Como se escreve uma ausência?
Começar com uma pergunta é como abrir uma janela. Você ainda não sabe o que vai ver, mas já sente o vento entrando.
5. Comece como quem confessa algo
Existe uma força particular na vulnerabilidade. Começar um texto como se fosse uma confissão é uma maneira potente de estabelecer conexão com o leitor. É como dizer: “isso aqui é real, e eu não tenho medo de mostrar”.
Funciona para textos pessoais, mas também pode ser aplicado à ficção. Personagens que “confessam” algo logo de início parecem mais vivos, mais humanos.
Exemplo:
→ Preciso contar uma coisa que nunca tive coragem de escrever.
Esse tipo de abertura tira máscaras e entrega intensidade desde a primeira linha.
Escrever é como abrir uma trilha no escuro.
Nem sempre vamos enxergar o caminho inteiro, mas, aos poucos, a luz da palavra vai acendendo.
Ao destravar o começo, você se dá permissão para continuar. E ao continuar, você se transforma junto com aquilo que escreve. O Deus do Universo sopra as possibilidades do que ainda não existe. A Deusa da Terra cuida do que já pulsa em você. Os dois dançam quando você permite que a escrita aconteça, mesmo imperfeita.

E você, que tipo de começo está precisando hoje? Um caos? Uma pergunta?
Talvez a sua próxima história esteja esperando só uma palavra para começar a viver.
Deixe um comentário