
O Dia em que o Brasil foi salvo por um Profiterole e um Saci Holográfico
Ano 2073. O Brasil é governado por uma coalizão mística-tecnológica: ministros dividem o poder com curadores de aura que sempre juraram lealdade, e o STF agora inclui uma cadeira especial para “entidades ancestrais reconhecidas por tradição oral”.
O país é outro. As cidades são movidas a energia eólica emocional (quanto mais ternura, mais luz), e o campanário da Catedral de Olinda manda alertas climáticos cantados por drones-pássaros.
Nesse cenário futurístico, conhecemos Isabela, uma ex-psicóloga que virou “ajustadora de sentimentos sintéticos”. Mora em São Thomé das Letras, agora capital mística do país. Seu dia começa com um banho gelado, café, leitura do horóscopo federal e um passeio entre as nuvens de névoa programada, liberadas pontualmente às seis da manhã.
Isabela vive entre o sossego do mato e a dedicação aos seus filhos robóticos, Tupã e Clarice, que têm mais opinião que muita gente de carne e osso. Clarice, inclusive, está na fase rebelde e diz que sente solidão transcendental. Tupã acredita que é uma borboleta presa em corpo de aspirador de pó.

Na vila, tem alguns boatos de que um novo herói nacional apareceu. Não um político, nem um influencer, mas sim um… saci. Só que agora ele é holográfico, programado pelo coletivo de hackers-afroindígenas “JuremaTech”. Aparece nos momentos de caos social e derruba o sistema com piadas e amizade verdadeira.
— “Mais eficiente que exército, mais rápido que CPF no Serasa!” — dizia a faixa na passeata do Dia Nacional da Leveza, feriado recém-criado por decreto popular.
Naquela semana, o Brasil inteiro se emocionou com um acontecimento inesperado: o Saci digital interrompeu a Rede Nacional durante o pronunciamento presidencial para anunciar:
— “Chega de dor emocional não tratada! Hoje, todo brasileiro tem direito a profiteroles quentinhos e conselhos amorosos com Isabela, nossa nova terapeuta-chefe!”
A gratidão foi geral. Milhares buscaram ajuste de sentimentos, e o país bateu recorde de beleza emocional por km². Até os profiteroles flutuantes ganharam status de patrimônio nacional.
Enquanto isso, Isabela tentava dar conta da paixão coletiva por seu novo cargo. Atendia de manhã os humanos, à tarde os androides, e à noite respondia e-mails de Deus (o novo nome do algoritmo universal de sabedoria artificial).
— “É muito para minha cabeça de menina do interior”, dizia ela, meneando a cabeça, segurando um chá de boldo emocional.
O Brasil passou a viver com mais esperança e resiliência às coisas simples. As pessoas marcavam piqueniques em campos de realidade aumentada sob o céu azul, criavam amálgamas de arte e tecnologia, se colocavam na fila dos abraços para quem se sentia triste e voltaram a sentir de verdade. Mesmo que às vezes fosse só sentimento mal explicado.
E quando alguém perguntava como tudo começou, Isabela respondia:
— “Com um Saci e um profiterole. É assim que as revoluções começam por aqui. Com açúcar e magia. — Sorria e continuava – Ok. Magia não. Só Brasil sendo Brasil, quando o roteiro falha, o coração virtuoso improvisa.
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