Cósmico leitor,
Hoje, trago para vocês, junto da querida Jéssica Vias, uma parceira de palavras — uma história sobre mudança e resistência. Um conto que nasce em campos dourados, sob a sabedoria das ervas e o riso livre das mulheres, mas que se vê atravessado pela sombra de um novo tempo. Que essa narrativa não apenas o transporte, mas também sussurre ao seu coração sobre aquilo que nunca deve ser esquecido.

 

Sementes sob a Lua

 

Era numa pequena aldeia de costumes pagãos que uma belíssima e simpática figura ruiva, detentora de uma liberdade e sabedoria ímpares, vivia e trabalhava para ajudar sua família de origem plebéia. 

Barbarela, musa dos trovadores, colhia cevada nos campos, preparava pães e conhecia todas as propriedades medicinais das ervas (sabedoria ancestral transmitida por gerações de mulheres). 

 

Mas era à noite que sua soberania e liberdade reinavam — bebia hidromel nas tavernas com seus amigos aldeões, dançava e cantava até o raiar do dia. Todos a amavam, principalmente por sua vitalidade e pelo amor que ela demonstrava pela vida. 

 

Certo dia, enquanto colhia especiarias pelo bosque, ouviu um som vindo de trás de arbustos e parecia com gemidos de dor. Com medo e contando passos, se deixou intuitivamente guiar até uma clareira onde se deparou com uma inusitada cena: um guarda da comitiva real estava caído e tinha um enorme ferimento de espada em seu dorso.

 

Barbarela se aproximou com cautela, mas a compaixão venceu o receio. Ajoelhou-se ao lado do homem e, com mãos firmes e seguras, retirou de sua bolsa as ervas que carregava sempre consigo. Limpou o ferimento, aplicou uma pasta feita de mel e folhas de milefólio, depois amarrou um pano de linho para conter o sangramento.
O guarda, ainda atordoado, murmurou palavras desconexas sobre uma emboscada na estrada e sobre a necessidade de voltar ao castelo para “proteger o mensageiro de Deus”.

 

Durante os dias seguintes, ela cuidou dele em segredo, escondido numa cabana abandonada na beira do bosque. Dando goles de caldo quente e trocas de histórias, Barbarela soube que o homem fazia parte de um grupo enviado para “preparar o caminho” da nova fé que se espalhava pelas terras. Falava sobre a promessa de um único Deus, e sobre como a coroa já via com maus olhos certos ritos das aldeias, deixando claro as leis mais severas.

 

Ele a ouvia com curiosidade quando ela falava das festas do solstício e das danças sob a lua, explicando a sua ligação com a terra, mas seus olhos endureciam ao lembrar-se dos sermões que recebera: “essas práticas são obra do engano… principalmente as mulheres que as conduzem.”

 

Quando se recuperou, partiu deixando uma prece silenciosa e um olhar que misturava gratidão e conflito. Poucas semanas depois, a aldeia foi visitada por monges e soldados. Vieram com cruzes, pergaminhos e ordens, dizendo que os altares deveriam ser queimados, as festas noturnas seriam proibidas e todas as curandeiras passariam a responder ao sacerdote local.

 

Barbarela assistiu, com o coração pesado, à derrubada do velho carvalho sagrado onde tantas gerações haviam celebrado colheitas e uniões. O riso livre das mulheres deu lugar a olhares baixos, e o cântico alegre foi substituído pelo silêncio imposto.

 

Ela sabia que aquela mudança não era apenas sobre deuses, e sim sobre controle. E que, no fundo, o que se perdia não era apenas uma crença, mas o direito de existir com a mesma luz que antes iluminava suas noites.

 

Mas Barbarela também sabia guardar segredos. E enquanto as paredes da igreja se erguiam, ela escondia sementes de liberdade nas histórias que contava às crianças e nas receitas que entregava às jovens, sempre sussurrando as antigas canções que, um dia, voltariam a ecoar, pois ela sabia que certas sementes germinam devagar… mas quando florescem, ninguém pode arrancar.

 

 

E você, cósmico leitor?

Quais sementes de liberdade você tem cultivado, mesmo quando o mundo insiste em arrancá-las?

 

Entre versos e universos,

Julia Abreu e Jéssica Vias

Categorias:

Fragmentos Literários

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