Cósmico leitor,

As desilusões fazem parte do roteiro secreto da vida. Pequenas ou imensas, elas chegam sem pedir licença… No instante, doem, mas, quando revisitadas, podem até virar riso. Este conto nasceu desse olhar: transformar fracassos cotidianos em histórias compartilhadas, lembrando que rir das próprias quedas também é uma forma de seguir adiante (Que eu super recomendo haha).

 

O Clube das Desilusões

Naquela cidade pacata, entre a sorveteria que nunca tinha sorvete de chocolate e a barbearia que só funcionava às segundas-feiras, existia o Clube das Desilusões. A porta azul permanecia quase sempre fechada, como se quisesse proteger o mundo das histórias que lá dentro circulavam.

Ali, todo tipo de fracasso ganhava palco. Não importava se era algo profundo, como um amor não correspondido, ou banal, como perceber no caixa do supermercado que a promoção do feijão só valia na quarta-feira. Tudo era acolhido, porque no clube a regra era “dor compartilhada é dor reciclada”.

Certa noite, quem começou foi Arnaldo, um senhor de bigode grosso e autoestima delicada.
— Minha desilusão de hoje é que passei três horas no YouTube vendo “receita fácil de pão caseiro” e o resultado foi uma pedra tão dura que minha esposa sugeriu usar de peso de porta.

Risos contidos, alguns gargalhados. O clube funcionava assim, com cada desilusão sendo tratada como material bruto para humor. Afinal, ninguém queria sair dali mais triste do que entrou.

Depois veio Patrícia, que abriu um caderno cheio de corações desenhados:
— Eu escrevi um poema para um cara, mas ele respondeu com um emoji de joinha. JOINHA! Nem uma palavra, só um dedão levantado!

O grupo murmurou um “ooooh” solidário. Miguel, o mais velho, pigarreou:
— O joinha é a forma digital de dizer “não tenho nada a declarar, próxima pergunta”.

A reflexão fez todos assentirem. No clube, a graça estava em perceber que desilusão não era exclusividade de ninguém. Era patrimônio coletivo da humanidade.

Por fim, foi a vez de dona Elvira, conhecida por suas histórias dramáticas. Ela ajeitou os óculos, respirou fundo e anunciou:
— Hoje a minha desilusão foi que, depois de vinte anos indo à mesma padaria, o padeiro finalmente lembrou meu nome… mas me chamou de “Dona Valquíria”.

O grupo explodiu em gargalhadas. Helena, quase chorando de tanto rir, resumiu:
— Ou seja, até quando a vida decide nos reconhecer, erra o nome!

Aquele era o espírito do clube: rir para não chorar. E a cada encontro, todos saíam mais leves, como se as desilusões, quando divididas, diminuíssem de tamanho.

Naquela noite, encerraram com um brinde de café ralo, e Miguel, sempre com suas tiradas, levantou a caneca e disse:
— Senhores, se um dia o mundo acabar, tenho certeza de que vai ser numa sexta-feira, às oito da noite, só para coincidir com a reunião do clube.

E foi nesse exato momento que o abajur piscou, a luz apagou de vez… e todos ficaram em silêncio, até que Júlio, no escuro, comentou:
— Bom, pelo menos a conta de luz foi a desilusão da vez.

 

 

E você, cósmico leitor?
Quais desilusões você carrega consigo hoje? Já tentou transformá-las em palavras?

 

Entre versos e universos,
Julia Abreu

Categorias:

Fragmentos Literários

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