Cósmico leitor,
Eu sempre repito para mim mesma que há uma música que só nós mesmos podemos ouvir, e ela está escondida entre as nossas palavras. Encontrar sua voz própria na escrita é como ajustar um rádio antigo até captar uma frequência que vibra exatamente no tom da sua alma. No início, é natural ecoar o som de outros autores, imitar estruturas, repetir estilos etc. Mas, pouco a pouco, você começa a perceber que há algo em seu modo de ver o mundo que ninguém mais possui, como uma forma única de sentir, narrar e escolher o silêncio entre as frases.
A voz própria não nasce pronta. Ela se revela no atrito entre o que te inspira e o que te diferencia. É o resultado de tudo o que você leu, viveu, sonhou escrever mesmo sem saber ao certo se estava no caminho “certo”. Hoje, vamos percorrer juntos os caminhos para reconhecer essa voz, e, principalmente, como lapidá-la até que soe autêntica e viva.

Imagem ilustrativa gerada com IA para fins visuais.
Como encontrei minha voz na escrita (e talvez isso funcione para você também)
Durante muito tempo, eu tentava escrever como os autores que admirava. Lia Clarice, Poe, Hemingway, Pessoa, Woolf… e, de algum modo, queria que minhas palavras soassem como as deles. Até perceber que a minha voz estava justamente nos “intervalos entre as influências”, no que sobrava depois que eu parava de tentar parecer com alguém.
Então, a primeira coisa que funcionou para mim foi aceitar o caos do começo. Eu me permiti escrever mal, sem ritmo, sem grandes metáforas. Só escrevia. Quando parei de querer ser perfeita, comecei a perceber certos padrões, como algumas palavras que sempre voltavam, uma forma específica de observar o mundo, e muitos outros. Isso era o início da minha voz.
Perceber esses padrões é entender que cada autor tem um ritmo natural, uma frequência emocional. Estudos de estilo literário chamam isso de “idioletalidade”, que é o modo como a linguagem pessoal se torna reconhecível. Alguns escritores, como Woolf e Clarice, dominavam a pausa e o fluxo; outros, como Hemingway, a precisão e o silêncio. Saber disso me fez perceber que não é preciso “forçar” um estilo, porque ele surge quando a emoção encontra sua forma.
Outra técnica que me ajudou foi ler com escuta ativa. Cada vez que eu lia um texto, tentava identificar por que aquela escrita soava como aquela pessoa, era o que? O vocabulário? O olhar sobre o tema? Depois, fazia o mesmo com os meus próprios textos. Essa comparação me fez enxergar o que era minha assinatura e o que era influência passageira.
Uma forma prática de exercitar isso é escolher um trecho de um autor que você ama e reescrevê-lo à sua maneira, mantendo o mesmo conteúdo, mas mudando ritmo e pausas. Mesmo imitando, você revela o seu olhar, uma coisa que ninguém consegue copiar.
Com o tempo, comecei a usar exercícios de imersão, um dos que eu mais gostei se resume em escolher um tema comum (“o tempo”, “a memória”, “o amor”, “a vida”) e tentar escrevê-lo de formas diferentes, como uma poética, outra direta, outra como se fosse um roteiro e por aí vai. Esse tipo de variação revela o ponto em que sua escrita se sente “em casa”.
Calvino dizia que a leveza, a precisão e a exatidão são valores literários que cada escritor manifesta de um modo diferente. Já Barthes defendia que “a voz do autor é o que resta depois que tudo o que é literatura foi apagado”. Essa mistura de referências me fez entender que encontrar a própria voz não é um exercício de estilo, é um processo de escuta. E quanto mais consciente você é de como quer ser lido, mais próxima sua escrita fica do que você realmente é.
Mas talvez a maior descoberta tenha sido entender que voz própria não é algo que você cria, mas algo que você permite emergir. Ela aparece quando há honestidade, quando você escreve o que realmente quer dizer, e não o que acha que deveriam ler.
E foi assim que encontrei minha voz! Quando parei de correr atrás dela e comecei a prestar atenção no que o silêncio entre as frases queria dizer. Voz própria é um ponto de encontro entre técnica e vulnerabilidade, e quanto mais a gente se permite sentir o que escreve, mais ela se revela, espontânea, nítida e nossa.
Ao longo do texto, compartilhei técnicas, reflexões e autores que realmente sigo. Mesmo que você não use tudo, vale buscar conhecer, pois há sempre muito a aprender com quem nos inspira.
Desfecho Cósmico
O Deus do Universo observou em silêncio enquanto as palavras flutuavam no ar, como constelações recém-nascidas.
— Vês, Deusa da Terra? — disse ele, sorrindo. — Cada escritor é uma galáxia à procura de seu próprio som. A voz surge quando o medo da comparação se dissolve e o universo se reconhece em cada frase.
A Deusa da Terra respondeu, com as mãos ainda cobertas de luz e argila:
— Sim. A voz nasce quando a escrita deixa de imitar e começa a curar. É quando o escritor se escuta de verdade, e o que antes era apenas texto, torna-se alma impressa.
E é assim, só assim, que a escrita encontra o tom que a torna única.

Imagem ilustrativa gerada com IA para fins visuais.
E você, cósmico leitor?
Qual é o som da sua escrita?


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