Cósmico leitor,
O texto de hoje surgiu de uma tentativa inocente de escrever um roteiro simples, daqueles com começo, meio e fim, seguindo todas as regras bonitinhas. Mas, como você vai perceber, nada saiu como planejado.
É um conto que brinca com a ideia de criação, com as leis do roteiro… e com o fato de que, às vezes, nem a gente controla a história que está escrevendo. Espero que você se divirta com o desastre organizado que nasceu daqui, e que perceba as pequenas referências escondidas sobre como as narrativas ganham vida quando menos esperamos.
ROTEIRO
COMEÇO
Eu só queria escrever um roteiro simples. Nada épico ou cheio de reviravoltas, apenas uma história comum o suficiente para provar que eu finalmente entendia essa coisa de “começo, meio e fim”.
Mas o universo tem o péssimo hábito de ouvir meus planos e decidir que pode fazer melhor.
Sentei para escrever a primeira cena que era eu, entrando em uma cafeteria, pedindo um café forte e olhando pela janela enquanto a vida acontecia lá fora. Simples. Bem tranquila.
Mas no exato momento em que escrevi “o barista sorriu educadamente”, ele — o próprio barista real — caiu da cadeira. Não tropeçou. Não escorregou. Caiu como se alguém tivesse apagado a gravidade por um segundo só para ele.
E é aí que percebi que meu roteiro tinha começado… sem a minha permissão.
MEIO
Os clientes começaram a agir de forma estranha. Uma senhora abriu um livro e a página começou a mudar sozinha, como se estivesse com vento, só que não tinha vento. Um adolescente reclamou que seu celular reiniciou e mostrou uma notificação dizendo:
“ATO II INICIADO.”
Eu tentei continuar escrevendo, já que, aparentemente, ou eu narrava ou perdia o controle. Escrevi: “Todos ficam confusos, mas nada grave acontece.”
E então a luz da cafeteria piscou três vezes e o chão começou a tremer.
“Ok!”, eu falei, “entendi! Meio da história precisa de conflito, mas isso é exagero.”
Ninguém respondeu, exceto o meu próprio caderno, que vibrou como se estivesse irritado.
Porque estava. Porque escreveu sozinho:
“CONFLITO É ESSENCIAL.”
E assim, contra minha vontade, eu virei protagonista de um roteiro que estava se dirigindo sozinho.
FIM
Quando cheguei na parte de escrever o final, o universo ficou… quieto. Perigoso demais. Silencioso demais. As pessoas da cafeteria retomaram suas conversas como se nada tivesse acontecido, como se não tivéssemos sido figurantes de uma história rebelde.
Eu respirei fundo, encostei a caneta no papel e escrevi:
“E então, tudo volta ao normal.”
As luzes estabilizaram e o caderno parou de vibrar. Tudo parecia normal novamente.
Pensei em encerrar com algo sensato. Pensei que poderia ser grandioso e cinematográfico. Mas o universo, que aparentemente tinha virado meu coautor, escreveu sozinho ao lado da minha frase:
“FIM (por enquanto).”
E fechou o caderno. Literalmente. Na minha mão.
Sem explicações.
Sem reflexão.
Sem metáfora.
Sem lição.
Apenas… acabou. Ou decidiu acabar.
O que, honestamente, é a coisa mais “roteiro” que poderia acontecer.

E você, cósmico leitor?
Já viveu um momento tão estranho que parecia escrito por alguém de fora?
Entre versos e universos,
Julia Abreu


Deixe um comentário