Cósmico leitor,
Há épocas do ano em que somos convidados a oferecer algo e nem sempre sabemos exatamente o quê.
Pode ser um presente embrulhado ou até a nossa presença
O Natal, independentemente de crença ou tradição, carrega esse símbolo antigo. O gesto de oferecer. E a literatura, curiosamente, sempre soube fazer isso muito bem.
Ler é receber algo que alguém deixou no mundo sem saber quem iria encontrar.
Escrever é oferecer algo sem garantia de retorno.
Talvez seja por isso que a literatura nos ensine tanto sobre dar.

Imagem ilustrativa gerada com IA para fins visuais.
O presente invisível da escrita
Quando alguém escreve, não está apenas organizando palavras.
Está oferecendo tempo, memória, tentativa, erro, olhar.
Todo texto é um gesto de entrega:
“Isso é o que vi.”
“Isso é o que senti.”
Mesmo quando é ficção, há algo profundamente humano ali. Um pedaço de quem escreveu encontra um pedaço de quem lê, e esse encontro não pede explicação.
A literatura nos ensina que nem todo presente precisa ser útil, só precisa ser verdadeiro.
Ler também é um ato de acolhimento. Não é algo passivo. É só aceitar entrar no mundo do outro permitindo que uma história nos atravesse. É se reconhecer, ou até se estranhar, dentro de uma voz que não é nossa, mas que, por alguns instantes, parece falar diretamente conosco.
Quantas vezes um livro já nos fez sentir menos sozinhos? E quantas vezes uma história nos ofereceu abrigo?
Esse também é um presente. A identificação, sendo um reconhecimento silencioso de que alguém, em algum lugar, sentiu algo parecido.
O Natal como símbolo, não como regra
O Natal pode significar muitas coisas diferentes para pessoas diferentes, mas, simbolicamente, ele sempre aponta para o mesmo lugar que é a “conexão”.
É um tempo em que falamos mais sobre afeto, sobre olhar o outro com mais cuidado. E a literatura faz isso o ano inteiro, sem data marcada ou obrigação.
Pensar em tudo isso mostra que talvez o que a escrita nos ensine seja que oferecer não precisa ser grandioso. Quem não gosta de uma palavra bem colocada, aquela história honesta?
O que a literatura nos convida a oferecer é presença, e não perfeição.
Ofereça atenção e escuta. Ofereça sensibilidade em um mundo que anda rápido demais.
E, nesse fim de ano, um presente que deveríamos entregar, sendo ele o maior de todos, é continuar criando pontes significativas, seja entre pessoas, histórias, sentimentos e até em silêncios.
Desfecho Cósmico
Na noite calma, enquanto as palavras repousavam como estrelas baixas, o Deus do Universo observou a Terra em silêncio.
— Curioso — disse ele — como os humanos insistem em oferecer coisas visíveis, quando os presentes mais profundos são invisíveis.
A Deusa da Terra sorriu, tocando o chão com cuidado.
— A escrita sempre soube disso — respondeu. — Ela oferece abrigo, mesmo quando não promete resposta e cura, mesmo sem saber quem vai ler.

Imagem ilustrativa gerada com IA para fins visuais.
Feliz Natal, cósmico leitor.
Que você receba palavras que aqueçam
e ofereça presença, mesmo em silêncio.


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