Cósmico leitor,
Toda semana, o Cósmica abre espaço para brincar com as palavras e lembrar que a escrita também é um lugar de encantamento.
E, já que o tema desta semana está relacionado com a leitura ajudando na escrita, pensei em imaginar o que aconteceria se as histórias resolvessem atravessar o papel… Literalmente.
O texto de hoje é um conto leve e divertido sobre uma leitora que descobre uma livraria nada comum. Lá, os livros não apenas contam histórias… eles emprestam personagens. É um lembrete (ou uma piada cósmica) de que toda boa leitura acaba nos escrevendo de volta. Aproveite e se inspire.
A livraria que emprestava personagens
Eu só queria um livro.
Um simples romance para ler antes de dormir, conseguir fingir que minha vida tinha diálogos melhores.
Mas a livraria da esquina, aquela que eu nunca tinha notado, parecia ter outros planos.
O dono, um senhor de terno azul e sorriso de quem sabia demais, me olhou por cima dos óculos e perguntou:
— Vai querer só o livro, ou também o personagem?
Achei que fosse brincadeira. Ri.
Ele não.
Assinei um papel com letras tão pequenas que pareciam formigas alfabetizadas e saí de lá com um volume antigo chamado “O Cavaleiro e o Gato que Raciocinava”.
Até aí, tudo bem.
Só que, naquela noite, o tal cavaleiro apareceu na minha sala.
Com armadura e espada, me encarando com uma expressão indignada.
— Onde está o dragão? — ele perguntou, limpando o suor inexistente da testa. — Fui invocado e não vejo perigo algum!
Demorei um pouco pra reagir, mas quando percebi que ele estava mesmo ali, de carne, osso e sotaque medieval, só consegui responder:
— O dragão… saiu pra jantar.
Ele ficou ofendido.
E antes que eu pudesse pensar em terapia, apareceram mais dois. Uma bruxa indecisa e um gato falante (aparentemente o mesmo do título).
A bruxa reclamava do roteiro e o gato corrigia minha gramática. Enquanto eles não paravam de falar sobre o livro, o cavaleiro tentava transformar o micro-ondas em arma mágica.
Na manhã seguinte, voltei à livraria.
O senhor de terno azul sorriu, como se já esperasse.
— Vieram todos? — perguntou.
— Todos. E estão reorganizando minha cozinha.
Ele deu de ombros.
— Acontece com quem lê demais de uma vez.
— Como eu devolvo? — perguntei, exausta.
O livreiro me entregou um bilhete e disse:
— Escreva o final. Só assim eles voltam pra casa.
Voltei correndo, abri o notebook, e comecei a digitar.
Mas o cavaleiro, curioso, olhou por cima do meu ombro e perguntou:
— Posso dar uma sugestão?
Mesmo eu dizendo “não”, ele deu a sugestão. E sério, não há nada mais difícil do que escrever com os próprios personagens dando pitaco.

Imagem ilustrativa gerada com IA para fins visuais.
E você, cósmico leitor?
Já imaginou se algum personagem do seu livro favorito resolvesse aparecer na sua sala?


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