Cósmico leitor,

 

Hoje trago uma história que nasceu de uma pergunta que carrego há tempos: o que acontece quando o tempo não passa?
Não me refiro ao tempo do relógio, mas ao tempo interno. Aquele que congela quando vivemos uma dor ou tristeza.
Esse conto é sobre uma rua onde os ponteiros não se movem. Mas, talvez, sobre pessoas que continuam tentando se mover mesmo assim.

 

Espero que, de alguma forma, ele encontre espaço aí dentro.

 

 

A rua onde os relógios pararam

 

Ninguém sabia ao certo quando os relógios haviam parado.

 

Na Rua do Sol Velho, todos os ponteiros estagnaram no mesmo segundo. O tic-tac sumiu de todos os lugares, os sinos não soavam e o céu parecia sempre prestes a amanhecer, mas nunca amanhecia de fato.

 

Dizia-se que foi por causa de um amor interrompido, que deixou o tempo em luto. Outros falavam de um menino que desejou, ao apagar as velas do bolo, que o melhor dia da sua vida durasse para sempre.

 

Mas ninguém sabia a verdade.

 

Havia, no entanto, uma mulher que ainda andava por lá: Elisa. Morava na última casa da rua, com uma porta azul desbotada e um jardim que insistia em florescer, mesmo no tempo estagnado.

 

Ela não tinha pressa, talvez porque soubesse que o tempo ali não obedecia mais ninguém.
Todas as manhãs, regava as plantas, escrevia cartas que não seriam enviadas, e esperava. Esperava sem saber o quê. Esperava como quem sabe que certas esperas são, na verdade, formas de lembrar.

 

Um dia, uma criança forasteira entrou na rua e trazia um relógio de pulso que ainda funcionava. Elisa olhou o objeto, depois olhou os próprios pulsos nus. Sorriu com ternura.

— Você não precisa do tempo para continuar andando — ela disse.

— E se eu me perder? — a criança perguntou.

— A gente só se perde quando esquece de sentir. Aqui, a gente sente primeiro. Depois, entende.

 

Naquele dia, os ponteiros não voltaram a andar. Mas pela primeira vez em anos, o céu clareou um pouco mais. E foi o suficiente.

 

 

E você, cósmico leitor? Qual parte da sua vida ainda vive numa rua onde o tempo parou?

 

Entre versos e universos, 
Julia Abreu 

 

Categorias:

Fragmentos Literários

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