Carta aberta ao meu ex

Querido (ou talvez seria mais seguro dizer “ex-querido”),

Escrevo esta carta com o mesmo coração cansado que já acreditou em fidelidade, fé e sonho, tudo junto e misturado.
Acho que o nome disso é amor, ou talvez mitocôndria emocional, aquela que fornece energia até o momento exato em que você resolve fazer algo heterodoxo, tipo desaparecer sem explicação.

Desde que você se foi, minha vida virou uma comédia picaresca de baixo orçamento.
A cômoda virou altar, a cama, território profano, e a geladeira… bom, a geladeira é o cemitério das minhas tentativas de salvação culinária.

Mas veja só, ainda mantenho um pouco de esperança, aquela que resiste mesmo quando a melancolia tenta dançar forró com a ansiedade no meio da sala.
Aliás, falando em música, toda vez que toca algo triste no rádio, sinto o brilho das lembranças tentando amplificar meu drama, como se a trilha sonora da minha vida tivesse sido escrita por alguém que odeia finais felizes.

Lembro do nosso último jantar. De você, do vinho, do discurso sobre amizade, e eu fingindo não perceber a traição piscando nos seus olhos com a constância de um farol quebrado.
Foi lindo, quase poético, se a poesia aceitasse ser feita de migalhas e ironia.

Agora, vivo entre o preconceito das vizinhas do prédio e as minhas próprias crises existenciais.
Às vezes penso em ter filhos, só pra poder ensinar a eles que amor não é fé, é coragem. E também um pouco de burrice, convenhamos.

Ainda assim, há gratidão.
Pela lição, e também por me fazer perceber que até as mitocôndrias precisam de descanso.
Talvez um dia, quem sabe, eu encontre outro guardião, um desses que não fuja diante da tempora mal frita e da minha mania de falar sobre salvação enquanto o jantar pega fogo.

No mais, desejo saúde, positividade e que seus próximos amores saibam lidar com o seu eterno dom de desaparecer nas entrelinhas.
Eu, por aqui, sigo tentando achar felicidade em coisas simples, como o cheiro do café ou a quase certeza de que nunca mais dividirei um liquidificador com ninguém.

Com ironia e um restinho de fé,
Luana

 

Imagem ilustrativa gerada com IA para fins visuais.

Categorias:

Fragmentos Literários

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