Carta Encontrada ao Pé da Lua

Querido destinatário desconhecido,

Se você encontrou esta carta, saiba que não foi por acaso. Eu a escrevi sob a Lua, usando um lápis azul emprestado por um poeta dissidente que jurava que minhas palavras teriam o poder de eclodir quando lidas por alguém corajoso.

Ontem, aventei a ideia de fugir vestindo apenas um vestido leve, mas o pôr do sol foi mais rápido que minhas pernas. Senti-me seguida por uma sombra malévola, e só consegui escapar porque uma criança soltava balões que distraíram a criatura.

Talvez você não acredite, mas carrego comigo uma regra de ouro: “desistir jamais”. É ela que me mantém viva, mesmo quando a tendinite me impede de carregar minha espada de madeira (longa história).

Há quem diga que sorte não existe, mas eu já vi uma melancia cair de um carro automobilista e impedir que eu fosse atropelada. Chame de milagre ou apenas de autorresponsabilidade, mas foi ali que decidi que ainda tenho esperança.

Sei que tudo isso soa estranho, como se fosse parte de um jogo de videogame. E talvez seja mesmo, porque um desconhecido me disse que eu era como o herói de Hollow Knight, vagando por cavernas com minha resiliência testada a cada passo.

Ainda assim, confesso que sinto saudade do que não vivi. Dos filhos que talvez nunca terei, do romance que ficou na esquina do destino, da felicidade que parecia premente, mas se escondeu. No entanto, algo dentro de mim acredita em recomeço.

Ontem, uma cigana me disse que meu futuro carrega prosperidade, mas só se eu tiver a consciência de não desvirtuar meus sentimentos. Ela falou de maravilhas escondidas além do horizonte, e deixou um mapa escrito em velhas cestas de palha.

Sei que parece loucura, mas o universo me enviou até você. E se eu não aparecer no próximo solstício, considere esta carta meu derradeiro aviso: siga o caminho dos balões. Eles sabem onde termina a estrada.Com uma mistura de coragem, surpresa e… uma pitada de ironia,
— A forasteira da meia-noite