Cósmico leitor,

Há dias em que o impossível apenas espera o horário certo para se manifestar. E o Halloween, convenhamos, é ótimo nisso. Este conto nasceu da ideia de que o mistério pode morar em um miado, e de que, às vezes, o mais assustador é perceber que nossas dúvidas finalmente resolveram responder.

 

O dia em que meu gato decidiu falar

Eu sempre desconfiei que meu gato, o Tobias, me julgava em silêncio.
Aquele olhar fixo, superior, de quem acha que a dona é um projeto experimental da humanidade que deu errado.
Mas tudo bem, a gente convivia em paz. Eu falava, ele miava, fazendo o equilíbrio cósmico se manter.
Até o Halloween.

Naquela noite, a energia da casa parecia diferente. O vento lá fora fazia a luz piscar, e Tobias… estava sentado na mesa, encarando uma vela acesa.
— Vai botar fogo no bigode — eu disse, tentando soar normal.
Ele piscou, olhou pra mim e respondeu:
— E você vai continuar com essa blusa horrível?

Silêncio.
Não o poético, o silêncio absoluto mesmo.
Fiquei imóvel, como se meu cérebro tivesse travado igual aba de navegador.
— Você… você falou?
— Ah, então agora você me ouve — ele suspirou, esticando as patas. — Faz três anos que tento conversar, mas você sempre acha que é miado.

Eu ri. De nervoso, claro.
— Tá bom, tô sonhando.
— Se for sonho, você precisa melhorar o roteiro.

Ele pulou da mesa com a elegância de quem faz isso há séculos e foi direto pra geladeira.
— Já que estou com voz, posso pedir comida humana agora? Porque essas rações secas são uma ofensa, sinceramente.
— Tobias, isso não é normal!
— Normal é discutir com um gato e esperar que ele não responda.

Sentei no chão, meio rindo, meio repensando todas as minhas decisões de vida.
Ele se deitou no tapete, como se fosse o terapeuta da sessão.
— Relaxa. Só falo uma vez por ano. Dia 31 de outubro. À meia-noite, perco a fala.
— Isso é um feitiço?
— É tédio. Gatos têm nove vidas e nenhuma série boa pra assistir.

A vela estalou.
O relógio marcou 23h59.
Tobias me olhou, ronronou baixo e disse:
— Foi bom conversar. Mas, por favor, troca de blusa antes que eu volte a miar.

E quando o relógio bateu meia-noite, ele voltou ao silêncio.
Mas, juro, vi um leve sorriso no focinho.

 

Imagem ilustrativa gerada com IA para fins visuais.

 

E você, cósmico leitor?
Se o impossível resolvesse conversar com você por uma noite, ouviria com medo… ou com curiosidade?

Categorias:

Fragmentos Literários

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