Cósmico leitor,
A infância é um lugar de encontros improváveis. É onde o impossível cabe no quintal e o real se mistura com o mágico sem pedir licença. O texto de hoje nasce desse espaço encantado onde um pedaço do céu resolve cair sobre a grama, trazendo risadas e perguntas que só a imaginação ousa responder.
O Dia em que o Céu Caiu no Quintal
Era uma terça-feira normal até que o céu resolveu cair no quintal da casa da vó Nilda.
Não foi o céu inteiro, claro. Só um pedaço azul, fofinho, com cheiro de algodão-doce e barulho de gargalhada.
“Não pisa!”, gritou Manuela, de 9 anos, segurando um balde como se fosse a coisa mais importante do mundo. “Se pisar, o céu pode ficar amassado e ninguém vai mais ver estrelas à noite.”
O irmão mais velho, Pedro, revirou os olhos. “Céu não amassa, Manu. Céu é… sei lá, gás. Ou vento. Ou coisa de adulto.”
Mas bastou encostar o dedo naquela beirada azulada para ouvir um “Ai!” vindo do próprio céu.
E foi assim que os dois descobriram que o céu, na verdade, era vivo.
Ele estava cansado de ficar lá em cima o tempo todo, só ouvindo pedidos, promessas e reclamações. Então desceu um pouquinho para descansar.
A vó Nilda, que não se surpreendia com mais nada desde que um pato entrou de bicicleta no quintal (história para outro dia), apenas colocou uma toalha na grama e serviu bolo de fubá para todo mundo (inclusive para o pedaço de céu).
O problema começou quando o cachorro da família, Toró, decidiu que aquele azul fofinho era um travesseiro perfeito. O céu espirrou. E cada espirro virava uma tempestade rápida de confete e balões.
Pedro arregalou os olhos. “Tá vendo, Manu? O céu é alérgico a cachorro!”
Manu riu tanto que quase caiu sentada no chão.
Depois de muita confusão, o céu se espreguiçou, agradeceu o bolo e voltou devagarzinho para o alto. Antes de ir, deixou uma bolinha brilhante na mão de Manu. “É para quando você esquecer que o impossível existe”, disse numa voz que soava como vento dentro de uma concha.
Pedro nunca contou a ninguém. Mas, até hoje, quando olha para o céu estrelado, tem certeza de que uma das estrelas piscando é o pedaço que caiu no quintal da vó Nilda.

E você, cósmico leitor?
Se um pedaço do céu caísse no seu quintal, qual seria a primeira coisa que você faria?
Entre versos e universos,
Julia Abreu
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