Cósmico leitor,
Hoje, trago uma história tecida com fios de encantamento e condena, pois é sobre aqueles amores que não deveriam existir, mas ainda assim nascem e crescem em silêncio, em mundos que jamais se tocariam se não fosse por um erro, ou talvez… por um feitiço.
Talvez você reconheça um pouco de si aqui nas escolhas que desafiaram o destino.
Espero que este conto ecoe onde as palavras silenciam.
O Fio da Maldição
Dizem que todo grande amor começa com um olhar… Mas o deles começou com uma queda.
Liora caiu do céu na noite do eclipse. Literalmente. Era uma guardiã das constelações, uma criatura feita de poeira estelar, além de ser encarregada de proteger os fios que conectam os amores certos. Só os certos. Os permitidos. Só que naquela noite, tropeçou em um fio enredado, como uma promessa antiga mal costurada, e foi puxada com força para o plano inferior: a Terra dos Errantes, onde vivem as histórias que não deveriam acontecer.
E foi lá que encontrou Kael. Ele era filho de um antigo pacto quebrado. Nascido de uma linhagem amaldiçoada a nunca se apaixonar sem perder algo em troca. Seus olhos tinham a cor da tempestade, e seu toque deixava a pele em brasa. Tudo nele era um aviso. Tudo nela era uma regra.
— Você não deveria estar aqui — ele disse, assim que a viu.
— Nem você — ela respondeu, sem saber por quê.
Eles passaram dias tentando desfazer o que unia suas presenças, mas a cada passo de afastamento, uma parte do mundo estremecia. As chuvas vinham cedo e os rios secavam. Havia algo de errado na ordem das coisas, e eles eram o centro. Foi então que Liora descobriu: havia tocado um fio proibido. Um fio que não deveria ser tocado. Seu nome era o de Kael, e agora, estavam entrelaçados.
— Se formos até o fim, o mundo pode colapsar — ela sussurrou.
— Mas se não formos, talvez sejamos nós a desabar — ele respondeu.
Amaram-se mesmo assim. Não por rebeldia, mas porque o amor, às vezes, é um feitiço maior do que qualquer maldição. A cada beijo, o céu perdia uma estrela, e cada noite juntos, uma história se desfazia em outro lugar. Estavam roubando possibilidades do mundo… mas criando uma só deles. No último dia do ciclo lunar, quando o véu entre os mundos estava mais fino, Liora precisou escolher: Salvar o mundo dos fios desfeitos… Ou salvar o único amor que já conheceu. Ela cortou o próprio fio. Não para esquecê-lo, mas para que ele não fosse mais uma maldição. Kael permaneceu na Terra dos Errantes, e Liora voltou ao céu com um vazio que nenhuma estrela preenchia. Dizem que, às vezes, quando duas pessoas se amam demais, o universo precisa se rearranjar, e há noites em que a aurora parece chorar.

E você, cósmico leitor? Que fios invisíveis já te amarraram a alguém que não deveria ser seu, mas foi, por um instante?
Entre versos e universos,
Julia Abreu
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