Cósmico leitor,
Este conto mostra como até os maiores “mistérios” podem nascer de pequenos acontecimentos cotidianos, e como um bom plot não precisa ser grandioso para ser envolvente. Aqui, a vida comum ganha graça e a simplicidade vira riso. O fio invisível da história aparece no jeito como o mistério cresce, prende a atenção e, no fim, se revela de forma surpreendente (e divertida).
O Grande Roubo da Coxinha Misteriosa
Era uma terça-feira, a pior de todas as terças-feiras, no movimentado coração de Osasco. O sol batia impiedosamente sobre o calçadão, e o ar-condicionado da Padaria Pão de Mel, famoso por suas empadas e o cafezinho forte, tinha decidido tirar uma folga eterna. No balcão, Dona Aurora, com seus óculos na ponta do nariz e um temperamento que rivalizava com o calor do dia, observava o movimento.
— E a Coxinha Misteriosa? Já saiu? — perguntou Seu Joaquim, o carteiro aposentado que passava mais tempo na padaria do que entregando cartas em seus bons tempos. Ele apontava para a vitrine vazia, onde geralmente repousava, majestosa, a iguaria mais cobiçada de Osasco: a Coxinha Misteriosa. Ninguém sabia o recheio exato, apenas que era indescritivelmente deliciosa e só saía uma por dia.
Dona Aurora bufou e disse:
— Misteriosa? Isso sim que é mistério! Ela sumiu! Evaporou! E a câmera de segurança… ah, a câmera de segurança estava no momento exato em que a bateria decidiu ir almoçar no shopping!
Um burburinho se espalhou pela padaria. A Coxinha Misteriosa, roubada? Isso era mais grave que o aumento da passagem de ônibus!
No fundo da padaria, escondido entre sacos de farinha, estava Lucas, um jovem entregador de aplicativo com ambições de detetive. Ele tinha se atrasado para a entrega da coxinha, e agora sentia-se pessoalmente responsável.
— Dona Aurora, eu posso ajudar! Eu vou encontrar a coxinha! Eu tenho um plano! — Disse Lucas…
Dona Aurora olhou para ele com ceticismo, dizendo:
— Um plano, é? Seu último plano envolveu entregar um bolo de fubá para um vegano e um hambúrguer de lentilha para um açougueiro!
Ignorando o comentário, Lucas convocou sua equipe de investigação. Nela havia a Vó Jandira, conhecida por seu faro apurado para fofocas e um sexto sentido para onde as coisas estavam, e o Motoboy Zeca, que conhecia cada rua e cada beco de Osasco como a palma da mão.
Vó Jandira, com um lenço colorido na cabeça e uma sacola de feira a tiracolo, já tinha seu primeiro palpite.
— Eu ouvi dizer que o Rivaldo da banca de jornais andava meio esquisito hoje. Ele gosta de comer escondido.
Zeca, com seu capacete de moto reclinado, riu respondendo:
— Rivaldo? Ele só come pastel de queijo e caldo de cana! Aposto que foi a Carol, a professora de dança. Ela sempre fala em “desafiar os limites”!
Lucas, com um bloquinho de anotações e uma caneta imaginária, tentava conciliar as pistas.
— Certo, primeiro, vamos à banca do Rivaldo. Vó Jandira, observe o comportamento dele. Zeca, esteja pronto para uma perseguição em alta velocidade, se necessário!
Chegaram à banca de jornais. Rivaldo, um senhor grisalho com óculos de leitura, estava absorto em um jogo de palavras cruzadas. Vó Jandira se aproximou e, com a voz mais doce possível, perguntou:
— Rivaldo, meu querido, você não está com um cheirinho diferente hoje? Um cheirinho… de frango desfiado com requeijão?
Rivaldo olhou para ela, perplexo.
— Dona Jandira, a senhora está delirando! O único cheiro que sinto é o de tinta de jornal!
Lucas, desapontado, riscou Rivaldo da lista. Próxima parada: a academia de dança da Carol. A música alta e as risadas ecoavam. Carol, uma mulher elegante com um coque impecável, estava ensinando passos de zouk.
— Senhorita Carol! — Lucas chamou — Soubemos que você gosta de desafios… por acaso, um desafio culinário?
Carol riu, um riso melodioso.
— Querido, meu único desafio é fazer com que meus joelhos detonados não parem de funcionar no meio do ritmo! E eu sou vegana, lembra? A não ser que a Coxinha Misteriosa tenha recheio de tofu e cogumelos, não fui eu!
A equipe de investigação de Lucas estava frustrada. O sol de Osasco castigava e a Coxinha Misteriosa parecia ter desaparecido para sempre. Foi então que Zeca, observando o movimento da rua, apontou para um cachorro vira-lata, que passava tranquilamente, lambendo os beiços. E, entre seus dentes, um pedaço… de massa frita com um recheio familiar.
— Lá está ela! — Zeca gritou, apontando.
O cachorro, assustado com o alvoroço, correu. Lucas, Vó Jandira e Zeca se lançaram em uma perseguição hilária pelas ruas de Osasco. O cachorro, escorregadio como um quiabo, desviava de pedestres, barracas de cachorro-quente e até de um ônibus lotado. A cena era digna de um filme de comédia pastelão.
No final, o cachorro, exausto, parou na praça, onde um grupo de crianças brincava. A Coxinha Misteriosa estava ali, no chão, com um pedacinho faltando.
Lucas, ofegante, pegou o que restava.
— A Coxinha Misteriosa… roubada por um cachorro!
Foi então que, ao chegar na padaria Pão de Mel, Vó Jandira, ajeitando os óculos na ponta do nariz, decretou com toda a sua autoridade:
— E pensar que o maior mistério de Osasco acabou em rabo abanando!
A gargalhada que veio depois ecoou até a esquina da padaria.

E você, cósmico leitor?
Você já viveu um “mistério” que terminou de um jeito completamente inesperado?
Entre versos e universos,
Julia Abreu
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