Cósmico leitor,
Às vezes a vida nos coloca diante de pequenos absurdos que, de tão insistentes, acabam parecendo pessoais. Quem nunca sentiu que o universo (Ou uma árvore rabugenta) estava conspirando contra si? Este conto nasceu justamente desse encontro entre o improvável e o cotidiano, de quando até a natureza decide se meter na rotina e nos força a rir da situação.
Mas há algo mais profundo escondido na comicidade desse julgamento improvável. A árvore, com sua teimosia, nos lembra que mesmo no caos existem pedidos silenciosos de atenção e respeito. Nem sempre a vida exige grandes gestos; às vezes, tudo que ela quer é um “bom dia” sincero, um reconhecimento daquilo que está ao nosso redor. É nesse equilíbrio que o texto convida você a refletir. Que talvez nossas batalhas não sejam contra o mundo, mas contra a forma como nos relacionamos com ele.
O Julgamento da Árvore Rabugenta
Era uma manhã ensolarada quando descobri que a árvore em frente ao meu prédio estava de mal comigo. Não é exagero, sério. Toda vez que eu passava por baixo dela, ploc, uma manga, uma folha, um galho mirrado, qualquer coisa caía exatamente na minha cabeça. Os vizinhos riam, eu fingia que não era nada, mas já estava convencido de que havia um complô vegetal contra mim.
— Isso é perseguição botânica — resmunguei para o porteiro.
Ele, rindo, respondeu:
— Quem manda não dar “bom dia” pra árvore?
Resolvi tentar. No dia seguinte, com toda a dignidade que consegui reunir, olhei para cima e disse:
— Bom dia, senhora árvore. Está bonita hoje.
E juro, pela sombra fresca dela, que uma brisa suave balançou as folhas, como quem responde “era só isso que eu queria, ingrato”.
Mas o problema é que, uma semana depois, outros moradores começaram a reclamar. Dona Maria levou um tapa de galho no ombro e até o motoboy escapou por pouco de uma manga kamikaze.
Decidimos, então, organizar uma reunião de condomínio. Na pauta: “a conduta suspeita da árvore da frente”. Alguns votaram pela poda radical, outros pediram diálogo pacífico. No final, optamos por um meio-termo que foi: mandar alguém conversar sério com a árvore.
A escolhida foi a Vó Ritinha, que dizia ter “energia boa para plantas”. Lá foi ela, de saia florida, colar de sementes e voz firme:
— Minha filha, precisamos viver em paz. Você dá sombra, a gente dá respeito. Negócio fechado?
Todos aguardaram em silêncio. E como se fosse um acordo diplomático, uma única manga caiu no chão (não na cabeça de ninguém), mas como quem assina um tratado de paz.
Desde então, nunca mais a árvore me atacou. Mas até hoje, cada vez que passo por ela, digo bem alto:
— Bom dia, majestade!

E você, cósmico leitor?
Qual foi a situação mais inusitada em que a natureza já te obrigou a parar e prestar atenção?
Entre versos e universos,
Julia Abreu
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