Cósmico leitor,

O medo sempre foi uma das emoções mais antigas do mundo. Ele nasceu junto da luz e da sombra, quando o homem ainda observava o fogo nas cavernas e imaginava o que poderia estar escondido além da escuridão. Desde então, seguimos fascinados por aquilo que nos ameaça, talvez porque o medo nos lembra que estamos vivos. Ele pulsa, arrepia, paralisa e, paradoxalmente, atrai. Escrever (e ler) sobre o terror é brincar com o desconhecido de maneira segura, acendendo uma vela dentro do próprio abismo.

E é por isso que, nesta semana de Halloween, quero falar sobre essa estranha paixão que todos nós, de alguma forma, cultivamos, que é o amor pelo medo. Vamos explorar por que sentimos prazer em sentir medo, e também onde tudo começou (as origens dos contos de terror, de onde vieram os primeiros gritos literários, e por que eles continuam ecoando até hoje nas páginas, nas telas e dentro da gente).

 

Imagem ilustrativa gerada com IA para fins visuais.

 

Por que amamos o medo nas histórias?

Talvez o medo seja uma das formas mais puras de imaginação. Ele nos faz criar monstros para nomear o que não entendemos e, ao nomear, nos sentimos um pouco mais seguros. Freud dizia que o medo é a sombra do desejo, e, seja qual for a explicação, há algo profundamente humano em se aproximar daquilo que assusta.

Quando lemos ou assistimos a uma história de terror, entramos em contato com o que normalmente evitamos. A morte, o desconhecido, o absurdo. Mas dessa vez, com a segurança da ficção. A literatura e o cinema nos permitem viver o medo sem sofrer suas consequências. É o “fingimento” que protege e, ao mesmo tempo, cura. A cada susto, o coração bate, fazendo o corpo reagir, e então, saímos da experiência com a estranha sensação de alívio.

Por isso, amamos o medo nas histórias. Ele nos devolve a sensação de estar vivos. O medo é uma lembrança biológica de que ainda há algo a perder e que não somos inteiramente previsíveis. E, na escrita, ele é também um recurso de poder. O medo move a narrativa, cria tensão, quebra o ritmo e transforma o leitor em cúmplice. Como não gostar?

O terror, afinal, não fala sobre monstros. Ele fala sobre nós, nos fazendo pensar sobre o que escondemos e o que reprimimos. Uma vez me disseram para perceber que o que mais tememos é, na verdade, o que mais se parece conosco, e cada vez mais o tempo passa, fazendo isso ter mais sentido para mim.

 

A origem dos contos de terror

O terror nasceu antes da literatura. Ele começou nas fogueiras, naquelas histórias narrando o inexplicável. O medo sempre foi uma linguagem ancestral, e os primeiros contadores de histórias, os intérpretes do escuro.

As raízes do terror estão no folclore e nas narrativas orais. Bruxas, espíritos, deuses e maldições surgiam como metáforas para o desconhecido. Cada mito era uma tentativa de entender a morte e o inexplicável. O medo era, então, uma forma de conhecimento, fazendo o humano se aproximar do divino através do susto.

Foi apenas no século XVIII que o terror encontrou sua forma literária. O castelo gótico se tornou seu primeiro lar, com Horace Walpole e O Castelo de Otranto, que abriu as portas para o medo arquitetado. E trazendo mais dois exemplos, um pouco a frente, veio Mary Shelley, que transformou o terror em reflexão filosófica com Frankenstein, e Edgar Allan Poe, que deu voz ao medo interior, aquele que não precisa de monstros, porque vive dentro da mente. 

Ao longo dos séculos, o terror foi mudando de rosto. Nos tempos vitorianos, ele refletia a moral e o medo da transgressão, enquanto no século XX, ganhou tons psicológicos e simbólicos. Já autores como Shirley Jackson e Stephen King transformaram o sobrenatural em espelho do humano. Hoje, o terror é o gênero que melhor traduz o nosso tempo, um tempo ansioso, solitário, hiperconectado e, paradoxalmente, cada vez mais assustado com a própria realidade.

Dá para chegar a uma conclusão de que o medo sempre refletiu o espírito da época. E é por isso que, quando escrevemos histórias de terror, estamos também escrevendo sobre a humanidade e suas fraquezas. O terror é, no fundo, a mais sincera forma de poesia, sendo ela, aquela que não teme o escuro.

 

Desfecho Cósmico

Mas dizem que, quando o primeiro medo foi contado, o Deus do Universo se inclinou curioso sobre o silêncio humano. Ele observou as palavras criarem sombras e percebeu que o terror era uma forma de tocar o infinito, lembrando o homem que existe algo além da razão.

A Deusa da Terra, porém, temeu que o medo ferisse o coração dos mortais. E então soprou um segredo entre as árvores: “Que aprendam, ao contar sobre monstros, a reconhecer os próprios abismos.”

Desde então, o terror passou a existir como um pacto entre os dois.
O Deus do Universo concedeu o mistério, o inexplicável, o som no escuro.
A Deusa da Terra concedeu o significado, a catarse, o retorno à luz.

O medo desperta o humano, e o humano desperta o medo… Em um ciclo que nunca termina.

 

Imagem ilustrativa gerada com IA para fins visuais.

 

E você, cósmico leitor?
Qual história de terror já te fez sentir medo?

Categorias:

Constelação do Saber

Compartilhar:
Posts Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

 

 

 


Cósmica Palavra

Cada palavra escrita é uma estrela que não se apaga.

Siga e Inscreva-se
Posts Populares
Inscreva-se na minha newsletter

Receba cartas cósmicas direto no seu e-mail.