Cósmico leitor,

 

Hoje, te convido a embarcar em uma travessia muito além dos mapas, uma história nascida entre estrelas tímidas e a fé absurda de que o amor ainda pode ser real.

 

Este conto nasceu da vontade de explorar a fantasia como linguagem do afeto, aquela que não explica tudo, mas sente tudo.

 

Vamos falar de aventuras que não envolvem espadas, mas coragens sentimentais. De missões que parecem bobas, mas salvam a alma.

 

Espero que, entre uma metáfora e outra, você encontre também um pedacinho do seu planeta interior.

 

 

 

O Planeta que Acreditava no Amor

 

Em algum canto do universo, entre a Galáxia dos Sofás Voadores e o Sistema Solar dos Relacionamentos Mal Resolvidos, existia um pequeno planeta chamado Mirié.

 

Era um planeta redondo, colorido, com florestas que cheiravam a bolo recém-assado, rios que cantavam melodias sonhadoras e nuvens em forma de interrogações, porque, ali, perguntas importavam mais do que respostas.

 

Os habitantes de Mirié eram os Telolins (criaturas de orelhas compridas e olhos imensos). Eles tinham corações tão frágeis que, às vezes, precisavam guardá-los em potes de vidro nos dias de muita emoção.

 

A mais sonhadora entre eles era Luv, uma Telolin teimosa com olhos brilhantes e uma mania insistente de acreditar que o amor ainda existia, mesmo quando o resto do planeta parecia ter desistido. Ela cresceu ouvindo que Mirié havia nascido do suspiro de um amor tão forte que virou lugar. Só que ninguém mais acreditava nisso.

 

Então, certo dia, movida por um tédio gigante, Luv decidiu que iria partir em busca do último traço do amor verdadeiro. Não por necessidade, mas por poesia, a mais corajosa das vontades.

 

Como não tinha nave, voou na colher gigante herdada da avó. Era uma relíquia sentimental com rumores de ter atravessado a nebulosa da saudade sem arranhar o esmalte. Na mochila, levou frascos de suspiros e um mapa rabiscado.

 

Durante a viagem, encontrou constelações que gritavam frases de autoajuda e uma lua chamada Sariluna, que só deixava passar quem tivesse chorado ouvindo flauta em dó menor (Luv chorou e foi aprovada com louvor).

 

No centro do Espaço Que Sussurra, onde flutuam todas as palavras não ditas, Luv conheceu Merófilo, o guardião dos desencontros, uma criatura translúcida feita de dúvidas antigas.

 

— O que procura, pequena viajante? — ele perguntou.

 

— O amor que criou esse planeta. Quero provar que ele ainda existe.

 

Merófilo pensou, pensou, e entregou um espelho envolto em pétalas secas.

 

— Vá ao coração de Mirié. Se ainda acreditar, o espelho vai abrir a lembrança do primeiro suspiro.

 

Luv voltou.

 

Desceu às profundezas do planeta e encontrou o coração cristalino de Mirié. Colocou o espelho diante de si. Não viu o reflexo, ela viu cenas. Cenas de si mesma, fazendo coisas boas, dançando, cantando…

 

O espelho se quebrou em silêncio. E dele saiu uma criatura pequena, feita de luz e poeira de estrelas, que disse:

 

— Apenas quem sente de verdade pode manter esse planeta vivo.

 

E entregou a Luv um botão vermelho. Ela apertou.

 

Naquela noite, sem alarde, os Telolins começaram a sentir diferente. Uma Telolin chorou ouvindo um poema e outro escreveu uma carta sem ironia.

 

Mirié voltou a pulsar.

 

Hoje, Luv vive num quiosque onde serve chá de metáfora e vende biscoitos com frases sentimentais. Nas horas vagas, ensina jovens Telolins a voar de colher. E quando alguém pergunta:

 

— E se o amor acabar de novo?

 

Ela responde:

 

— A gente faz outro planeta.

 

 

 

E você, cósmico leitor?
Se pudesse inventar um planeta a partir de um sentimento… qual criaria?

 

Entre versos e universos,
Julia Abreu

Categorias:

Fragmentos Literários

Compartilhar:
Posts Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

 

 

 


Cósmica Palavra

Cada palavra escrita é uma estrela que não se apaga.

Siga e Inscreva-se
Posts Populares
Inscreva-se na minha newsletter

Receba cartas cósmicas direto no seu e-mail.