Cósmico leitor,
Você já se pegou assistindo a um filme e pensando: “eu queria escrever algo que fizesse alguém sentir isso”?
Há uma beleza secreta nas boas narrativas audiovisuais, porque cada olhar guarda um princípio de escrita. Quando comecei a observar filmes com olhos de roteirista (ou ao menos de quem quer aprender com eles), percebi que o cinema é um manual vivo sobre contar histórias.
Hoje, quero compartilhar esse olhar. Vamos observar cenas, entender o que funciona nelas, descobrindo como aplicar tudo isso à escrita literária. Afinal, todo escritor é também um espectador apaixonado, e aprender a ver com atenção é o primeiro passo para escrever melhor, sim. (Recomendo que assistam todos os filmes e séries que mencionarei aqui, mesmo que não sejam do seu estilo. Eles são excelentes para abrir portas da criatividade. Além disso, um bom escritor aprende a ir além dos próprios gostos, já que é assim que aprimora sua arte. Com os filmes, não é diferente.)

Imagem ilustrativa gerada com IA para fins visuais.
O que funciona bem no cinema
O cinema é um grande laboratório da narrativa. Em poucos minutos, uma cena pode ensinar mais sobre ritmo e conflitos do que páginas de teoria.
E para que você entenda bem o que estou querendo dizer, já indico dois filmes: Interestelar e Clube da Luta.
Quero que observe o uso do tempo em Interestelar. O corte entre o que acontece no espaço e o que se passa na Terra não é só técnico, não. Ele cria tensão emocional, mostrando que o tempo não é só físico, é também afetivo. Essa alternância entre cenas acelera o coração do espectador e o faz sentir a dor da distância.
Já em Clube da Luta, o segredo está nos diálogos e na construção da identidade. Cada fala tem peso e ironia. O narrador conversa com o espectador quase como um cúmplice, e é justamente essa cumplicidade que o engana. O filme mostra como o ponto de vista é uma das armas mais poderosas de um escritor, pois o que você mostra é importante, mas o que esconde é o que realmente prende.
Essas cenas funcionam porque ligam forma e sentido. O silêncio, a montagem, os cortes bruscos, o olhar demorado, enfim, tudo serve à emoção. É isso que precisamos aprender como escritores. A narrativa é tanto o que é dito quanto como é mostrado.
6 lições de escrita que aprendi assistindo filmes e séries
1 – Todo conflito precisa de uma centelha.
O que torna uma história viva é a fricção entre desejo e obstáculo.
Exemplo: Em Peaky Blinders, cada episódio começa com um personagem querendo algo que parece inalcançável, e é isso que move tudo.
2 – Os silêncios contam histórias.
O que não se fala, pesa. Aprendi MUITO com This Is Us que as pausas são parte do diálogo.
Na escrita, o mesmo acontece com o espaço entre parágrafos, com as reticências e as pausas emocionais.
3 – Os personagens são o centro de gravidade.
Uma boa história é aquela em que o leitor entende o que o personagem quer, mesmo que ele ainda não saiba.
Breaking Bad e Fleabag são lições vivas de como o desejo interno molda o tom, o ritmo e o destino da narrativa.
4 – Ritmo é respiração.
Filmes alternam calma e tensão; nós fazemos o mesmo com frases curtas e longas.
Uma narrativa precisa respirar. É o intervalo que torna o impacto mais forte.
5 – Cada detalhe tem um propósito.
O cinema nos ensina que nada é gratuito.
Tudo deve existir porque carrega sentido. Na escrita, cada metáfora precisa justificar sua presença.
6 – Toda história precisa de uma revelação.
Não necessariamente um plot twist, mas um momento de clareza emocional.
Como em O Show de Truman, o mais poderoso é quando o personagem percebe quem é e o leitor percebe junto.
Quando o cinema “ensina” a literatura
A literatura e o cinema contam histórias diferentes, mas usam ferramentas irmãs.
A câmera aproxima, corta, foca, silencia. O escritor faz o mesmo com palavras. Um parágrafo é um enquadramento. Um capítulo é uma sequência. Uma vírgula pode ser um corte seco.
O show, don’t tell (mostrar, não contar) é uma herança direta do cinema. Escritores como Virginia Woolf e Clarice Lispector já faziam isso intuitivamente. Mostravam o fluxo interno da mente como se “filmassem” o pensamento.
Ao observar como um diretor usa a luz para criar emoção, o escritor aprende a usar a linguagem para criar atmosfera.
O cinema pensa em imagens.
A literatura pensa em sensações.
Mas ambas nascem do mesmo desejo: fazer o leitor enxergar o invisível.
Exercícios práticos que fiz e gostei muito
→ Cena: Interestelar (o adeus de Cooper à filha)
Observe a emoção contida, ele promete voltar, mas o tempo já começa a se distorcer antes mesmo de partir.
Exercício: escreva essa cena do ponto de vista da filha, Murphy. Descreva o momento sem mencionar diretamente a despedida (use gestos, ruídos, sensações).
→ Cena: Clube da Luta (a revelação final)
É o momento em que o narrador entende que Tyler Durden é parte dele.
Exercício: reescreva essa cena trocando o gênero, ou seja, imagine que é uma personagem feminina enfrentando sua “outra versão”. Foque nas emoções de descoberta e negação.
(Esses exercícios vão ajudar a observar como o cinema mostra o invisível, e como a escrita pode fazer o mesmo, sem precisar de câmera, apenas com o poder das palavras.
Desfecho Cósmico
Quando escrevemos, acendemos nossas próprias cenas, e o leitor é quem as projeta dentro de si.
O Deus do Universo sussurra: “Observe, sinta, imagine; cada cena, cada corte, cada olhar é uma faísca para criar mundos que ninguém mais poderia conceber.”
A Deusa da Terra acrescenta: “E ao escrever, conecte-se ao que é humano e verdadeiro; deixe que cada gesto e cada pausa revelem a alma da história, como raízes que sustentam o que cresce acima da terra.”
Assim, unir a visão cósmica e a sensibilidade terrena é transformar aprendizado em narrativa viva, onde o leitor sente cada batida do seu universo literário.
Escrever é dirigir um filme que só existe na mente de quem lê.

Imagem ilustrativa gerada com IA para fins visuais.
E você, cósmico leitor?
Qual filme já te fez querer escrever uma história?
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