Cósmico leitor,

 

Como sabemos, existem histórias que não são contadas em voz alta, apenas sussurradas por dentro, como orações que ninguém deve ouvir.

 

Essa é uma delas.

 

Um conto sobre fé e o amor que desafia as promessas feitas de joelhos.

Espero que suas palavras encontrem você onde a dúvida também é oração.

 

 

Que Deus feche os olhos por um instante

 

Ela se sentou no banco da capela vazia. As janelas tingiam o chão com vitrais dourados e rubros, como se o céu estivesse contando segredos em cores. Na mão, segurava uma carta antiga, dobrada com cuidado, amarelada nas bordas, escrita com a caligrafia trêmula de quem escreve mais com o peito do que com a mão.

 

A carta era dela, mas nunca fora enviada.

Talvez fosse uma confissão. Ou uma heresia. 

Quem sabe? Ela realmente não sabia.

 

Ela respirou fundo antes de abrir. Seus dedos hesitaram. Não porque não soubesse o que estava escrito, mas porque cada palavra ali ainda queimava como no dia em que foi escrita.

 

 

Ela fechou os olhos.

 

A fé dela sempre foi forte. Cresceu com a Bíblia sob o travesseiro, aprendeu que amor era renúncia, e que desejo era um teste. Mas então ele apareceu. Tão lindo, tinha um sorriso torto e um olhar que parecia saber de pecados que ela nem sabia ter.

 

Ela lutou. Oh, como lutou.

 

Rezou mais. Jejuou. Leu passagens em voz alta. Chorou.

Mas ele morava nos espaços entre os versículos.

 

 

Ela terminou a leitura com as mãos trêmulas. Não chorou. Não rezou.

Apenas guardou a carta no bolso do vestido, como quem guarda uma parte de si que não sabe se deve existir.

 

Na saída, acendeu uma vela.

 

Era o que fazia sempre que precisava escolher entre o que sentia e o que acreditava.

Mas naquela noite, a chama tremulou de um jeito diferente.

Como se dissesse: “Deus entende”.

 

 

 

E você, cósmico leitor?

Já amou em silêncio, como quem reza por dentro e espera ser perdoado só por sentir?

 

 

Entre versos e universos,

Julia Abreu

Categorias:

Fragmentos Literários

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